segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Estrangeirismo-Tudo que você precisa saber

1. O que é estrangeirismo?
O estrangeirismo é o emprego de palavras, expressões e construções alheias ao idioma tomadas por empréstimos de outra língua. Vocábulos oriundos de outras línguas são incorporados por meio de um processo natural de assimilação de cultura ou ainda por conta da proximidade geográfica com regiões cujos idiomas oficiais sejam outros. Sendo assim, podemos dizer que o estrangeirismo é um fenômeno linguístico orgânico, isto é, ele acontece de maneira espontânea e, quando menos percebemos, estamos utilizando empréstimos linguísticos para nos referir a objetos e ideias.
2. O estrangeirismo não coloca em risco a soberania da língua portuguesa:
Alguns estudiosos, sobretudo os tradicionalistas, veem o estrangeirismo como uma ameaça à língua portuguesa, um patrimônio cultural imaterial do Brasil. Contudo, é preciso cautela antes de afirmarmos que os empréstimos linguísticos causam prejuízos ao idioma oficial de um país. É absurdo o mito que corre por aí com ares de verdade de que, de repente, todos substituiremos o português pelo inglês, idioma que mais vocábulos empresta ao português na atualidade.
O estrangeirismo é um fenômeno social e, para que você entenda melhor o que isso significa, podemos comparar a língua à vestimenta: assim como as roupas, os comportamentos linguísticos da sociedade seguem a moda da época. Se até algum tempo atrás era comum dizer que uma garota era um “broto” e que um garoto era um “pão”, hoje não mais, pois “broto” e “pão” tornaram-se expressões obsoletas, como é obsoleta a expressão calças boca de sino, atualmente chamadas de calças flare, já que estamos falando sobre empréstimos linguísticos. Essa comparação nos diz que interações sociais, econômicas, culturais e políticas refletem de maneira considerável os comportamentos linguísticos, portanto, conclui-se que, diante da tradição, isto é, da língua portuguesa, o estrangeirismo é apenas uma “nuvem passageira”.
3. Se os estrangeirismos podem ser comparados aos modismos, por que existem empréstimos que se consagraram na língua portuguesa?
Muitos empréstimos linguísticos incorporaram-se de maneira indelével ao nosso vocabulário, isso é inquestionável. Contudo, isso não quer dizer que estamos deslegitimando o argumento defendido no tópico 2, mas apenas relativizando a questão, afinal de contas, quando o assunto é a língua, generalizações não são permitidas. Ao longo da história tomamos emprestados vocábulos de muitos idiomas. Se hoje em dia o inglês é quem mais nos empresta palavras, no início do século XX, por exemplo, o francês era quem dava as cartas por aqui. Algumas palavras desse idioma o tempo levou de nosso vocabulário, enquanto outras foram tão bem recebidas e assimiladas que fica difícil acreditar que não são nossas. Quer alguns exemplos? Veja a listinha abaixo:
abajur – abat-jour
balé – ballet
batom – bâton
Sutiã  soutien
Toalete – toilette
Você deve ter percebido que as palavras que hoje usamos não preservaram suas formas originais, e isso se deve ao processo de aportuguesamento vocabular. Outras, no entanto, conservaram a grafia original, deixando claro que são “intrusas” em nosso léxico. Veja alguns exemplos:
Backup
Hardware
Software
Pen drive
Check-in
Design
A maioria dos termos acima pertence a um mesmo campo semântico, isto é, faz referência ao universo da informática e ainda não possui correspondentes à altura na língua portuguesa. Por ainda não termos conseguido substituí-los sem que houvesse perda de significação e expressividade, preferimos, ainda que inconscientemente, preservar a “matriz”. Se eles serão consagrados em sua forma original, só o tempo e os falantes, responsáveis por definir o que fica e o que deve ser descartado, dirão.
4. Os estrangeirismos podem ser abolidos da língua portuguesa?
Não, exceto por algum tipo severo de coerção. Ainda que seja criada uma lei que proíba o cidadão de usar estrangeirismos, sempre haverá um ou outro “meliante” a desobedecer à regra. Abolir os empréstimos linguísticos por decreto é tão produtivo quanto proibir o falante de falar. Não é possível delimitar fronteiras para a comunicação, a língua é uma ferramenta democrática e pertence aos falantes, somos nós quem decidimos os rumos da linguagem.
Não pense você, no entanto, que ninguém nunca tentou barrar o avanço dos estrangeirismos na língua portuguesa. Em 1999, o então deputado Aldo Rebelo criou um Projeto de Lei que propunha “a promoção, proteção, defesa e o uso da língua portuguesa”, cujo objetivo era abolir os empréstimos linguísticos e punir quem insistisse em conspurcar o português, essa última flor do Lácio, inculta e bela... Bom, o final dessa história quase cômica vocês já devem imaginar: o projeto não deu em nada graças ao bom senso de vários linguistas que, por meio de dois ou três argumentos fortes, conseguiram desmontar o absurdo proposto pelo deputado, que se achou no direito de legislar sobre o que não conhecia.
5. Estrangeirismos e bom senso devem caminhar lado a lado:
Fôssemos dotados de bom senso o tempo todo, a discussão sobre os estrangeirismos não ganharia tamanha relevância. A implicância contra os empréstimos deriva do exagero: se existe uma palavra na língua portuguesa que consegue expressar com exatidão o significado de um empréstimo vocabular, por que não adotá-la? A resposta para essa pergunta passa por aspectos que fogem da mera discussão linguística e invariavelmente nos levam a pensar sobre a influência nem sempre positiva de uma cultura sobre a outra. Pensar que o inglês, o francês ou seja lá qual língua for sejam mais importantes do que a nossa apenas reafirma poderes simbólicos que levam o falante a acreditar que é chique usar nove estrangeirismos a cada dez palavras ditas.
Assim, viva os estrangeirismos, eles estão aí para contribuir para nossas atividades discursivas, e não para serem um obstáculo para a comunicação, razão maior da linguagem. Todavia, como em quase tudo na vida, menos é mais, portanto, na dúvida e na possibilidade de um vocábulo tupiniquim, opte sempre pelo bom senso, ou seja, prefira o bom e velho português e nada de for sale em vez de liquidação, certo?

Glossário com palavras traduzidas

Baby-doll – camisolinha
Baby-sitter – babá
Barman – garçom de bar
Black-out – apagão
Boom – surto
Button – broche, botão
Camping – campismo
Chip – plaqueta, pastilha
Clip – pregador
Closet – depósito
Delivery – entrega
Diet – dietético
Display – mostrador
Drink – aperitivo
Drive-in – acesso motorizado
Drop – bala, confeito
Email – correio eletrônico
Fair play – jogo limpo
Feed back – retorno
Franchise – licença comercial
Hall – saguão
Hobby – passatempo
Input – entrada
Jingle – música de propaganda
Jogging – corrida a pé
Kit – conjunto
Leasing – arredamento mercantil
Living – sala de estar
Make up – maquiagem
Money -- dinheiro
Outdoor – painel
Overdose – superdose
Partner – parceiro, par de dança
Performance – desempenho
Pick up – caminhonete
Playback – gravação
Pole position – ponta
Pool – conjunto
Poster – cartaz, quadro
Rack – estante, prateleira
Rally – prova de regularidade
Ranking – colocação
Refil – carga
Ring – tablado
Rink – pista
Round – assalto (no boxe)
Rush – congestionamento
Script – roteiro
Self-service – autoatendimento
Set – cenário, parte
Sexy – sedutor
Shopping center – centro comercial
Shorts – calção, curta-metragem
Show room – exposição
Show – espetáculo
Site – portal, sítio
Skate – patinete
Sketch – cena, historieta
Slogan – lema
Software – programa de computador
Spoiler – difusor
Spray – aerossol, vaporizador
Staff – assessoramento
Stand – barraca
Star – estrela, astro
Stress – tensão
Test drive – experiência de direção
Thriller – filme de horror
Ticket – bilhete, ingresso
Timer – temporizador
Trailer – reboque
T-shirt – camiseta
Tweeter – alto falante para agudos
Waffle – panqueca
Walkie talkie – transceptor portátil
Wind surf – prancha à vela


Palestras, poemas e entrevistas sobre o Estrangeirismo

Professor Pasquale no programa Encontro da Rede Globo
   Entrevista com o Professor Carlos CavalcantiAriano Suassuna falando sobre nomes estranhos
Carlos Silva (Cibernetico) Estrangeirismo 2           

Vídeos de músicas que tem uma certa relação com estrangeirismo

Zeca Baleiro Samba do Approach part. Zeca Pagodinho

Mamonas Assassinas 1406                                  

Carlos Silva, Estrangeirismo